Páginas

sábado, 31 de janeiro de 2015

PARA OS QUE ESTÃO EM CASA

João Velho, Ana Abbott e Renato Livera em "Para os que estão em casa", dramaturgia e direção Leonardo Netto (foto de Julia Ronái). 
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     Leonardo Netto, que tantas surpresas boas já nos deu, como ator, agora vem nos surpreender como diretor, principalmente, e autor. Sua dramaturgia é livremente inspirada em um filme chamado Denise Calls Up, dirigido por Hal Salwen, um cineasta independente capturado pela maluquice cibernética de nossa vida pós-internet. Pela primeira vez, em teatro, o assunto foi abordado como merece, ou seja, como a mudança drástica de nossa percepção da vida. A impressão que fica é de que as pessoas estão descartando seus semelhantes, com medo de se envolver e perder a sua individualidade.
     A sensação do público é de estar assistindo ao nascimento da fobia social. O egoísmo sobrepuja a sociabilidade, ao ponto de invejarmos o amor e a solicitude demonstrados, em vídeo, por uma família de chipanzés (magnífica idéia do diretor, daí o destaque para a sua criatividade). Leonardo Netto possui a capacidade de dar dinamismo a um assunto que poderia ser repetitivo, pois conversas ao telefone costumam ser borings. As cenas dependem muito dessas conversas telefônicas, o que as salva é a ação ininterrupta dada pelo diretor, um timming desesperado que faz a cabeça do publico responder a mil. O mundo dos "fonomaniacos", sua fobia pelo contato imediato nos revela a dimensão de nossa desumanização.  
     O termômetro da importância de uma iniciativa artística mede-se, quase sempre, pela reação do público. À saída do espetáculo percebemos comentários e raciocínios a respeito do tema. Tudo muito preocupante. E atual. Uma dominação através da máquina? Do idioma que a faz circular? O que são cookies, a não ser bolinhos? O que são chackers, a não ser bolachinhas? Non sense. Quem não conhece esta "linguagem" é considerado "por fora". E nos transformaremos em olhos, não mais em seres humanos. Em olhos desejantes. Nesta jaula desumana, como destacar a atuação dos atores? Pela inflexão das vozes? Pela expressão corporal? Comecemos então pela surpreendente movimentação em torno de si mesmo do ator Renato Livera, interpretando Jorge. Temos a impressão de que ele já foi bailarino, antes de ser ator (um ótimo ator), pois seu domínio de corpo é total. As interpretações são tocantes, pela garra com que os atores, todos jovens, defendem os seus personagens.  Sim, estamos em um mundo que se transforma. Estamos falando na geração atual, uma geração independente? Talvez não tão independente assim.
     Todos passam um recado de independência, e de auto suficiência. Como a design de ambientes, interpretada por Ana Abbot (Vera); ou a tradutora "impertinente" Lídia (Adassa Martins), que já não suporta a babaquice de seu patrão e o manda passear. Estas atitudes revelam, contraditoriamente, um futuro bem melhor, ao menos no que se refere à independência. Pura fantasia. E as mulheres vão mais longe ainda. Há a grávida apaixonada (Beatriz Bertu, interpretando Alice), que revela a sua paixão através do telefone. Ela deseja viver a experiência de ser mãe "sem a interferência de estranhos". E o pai da criança, que só as conhece - mãe e filha - depois do nascimento da menina? Ao menos as conhece.  Este casal é o único que quebra as regras. Assistam a peça também para saber com foi feita a concepção da criança. Espírito Santo? Telepatia?  
     É, até isso, Leonardo Netto, o nosso H.G.Wells da eletrônica,  imaginou. Beatriz Bertu segura, com extrema ternura e determinação, a sua vontade de ser mãe independente (parece que determinação, além da liberdade, é a mola que move as mulheres do século XXI). Há ainda a fóbica assumida, Guida, interpretada por Isabel Lobo. Essa personagem é capaz de todas as mentiras, para não enfrentar situações concretas.
     E os homens, como ficam eles neste mundo novo? São três homens e três mulheres, seis personagens ocupando este universo. A homossexualidade não é colocada em questão, apesar de ser um grande motor do século XXI. Na peça de Leonardo homens gostam de mulheres, e mulheres gostam de homens. As amizades, se as há, não passam de amizades - nada de frases freudianas a respeito da impossibilidade da amizade entre seres humanos. Relevando esta questão, parece que só há um ser humano normal nesta historia toda, ou o que hoje consideramos normal, ou seja, o homem que tem emoções além das que a internet e os iPods da vida podem lhe oferecer. Este homem é representado com arrebatamento por João Velho (parece que este ator já criou um estilo meio Actor's Studio de ser).
      ...E há também o ator que fica com a melhor frase nesta história toda: Rodrigo Turazzi (Fred), que se horroriza com a agressividade da internet e internautas, e imagina o que seria capaz de fazer uma pessoa solitária, com uma arma na mão. O seu pensamento deixa a nu o terror que habita nossos corações, com a lembrança de carnificinas praticadas por remotos solitários, cuja única companhia é a internet... e seus jogos agressivos. Mas não é só de frases de alerta que vive Fred. Ele conserva seu amor pela música, e dedilha o violão. Talvez nem tudo esteja perdido.
     Amarguras à parte, há uma espécie de cumplicidade nesta comunicação incessante entre jovens: alguns deles só se conhecem por telefone, o que torna seu mundo surreal...  
     Se é verdade que o teatro pode modificar o mundo, este é um bom início para tal proeza: Leonardo Netto acertou em cheio ao tentar abrir os olhos do público para essa possibilidade.
     Na ficha técnica desta produção independente temos a melhor equipe: Texto, Concepão e Direção: Leonardo Netto; Participação em vídeo Andrea Dantas e Santiago Trémouroux; Cenário: simples, comporta várias experiências, refletindo a particularidade de cada jovem em seu habitat, é do mestre José Dias; Iluminação: outro mestre, Aurélio De Simoni; Figurinos de Marcelo Olinto; Os Vídeos são de Leonardo Netto e Renato Livera; Trilha Sonora (que reflete essa mania do idioma inglês entre os jovens), Leonardo Netto.
VALE ASSISTIR A ESTE ESPETÁCULO.                                 


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

NO SE PUEDE VIVIR SIN AMOR

Nara Keiserman em No se puede VIVIR sin amor, de Caio Fernando Abreu (foto Demétrio Nicolau).   
IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     Em cartaz no SESC Copa, na sala multiuso, um espetáculo de bolso dirigido por Demétrio Nicolau e interpretado por Nara Keiserman: No se puede VIVIR sin amor. São reminiscências de pensamentos e historias de Caio Fernando Abreu. Nunca tínhamos visto Nara em solo, conhecíamos, por fama, a sua maneira de trabalhar com os atores, seu método de sensibilização do ator. Tivemos ocasião de constatar, no início de espetáculo, o quão aprofundada e bem sucedida é esta sensibilização. Nos primeiros minutos do espetáculo Nara apresenta seu método, e é algo como um ritual. Sua respiração, teste de alcance de voz, expressão corporal, nos levam a certeza que vamos assistir a algo de qualidade. Sim, porque, desde os primeiros momentos de tal sinalização, Nara nos prepara para o que virá depois.
     Nara Keiserman possui um misto de agressividade e doçura, na vida e no palco. Esta criatura espiritualizada possui um apelo que atua como um imã, e sua doce força se desenvolve no palco. Trata-se de um espetáculo simples, despretensioso, e seu encanto esta precisamente nesta simplicidade, e na atuação de Nara. São várias histórias e excertos de contos, cartas, diários, que vão sendo narrados. E nos surpreende, do ponto de vista da autoria, como Caio Fernando Abreu possui esta rara habilidade para desenvolver o pensamento da mulher.
     Há surpreendentes monólogos, escritos por Caio e colocados em cena por Nara, como o episódio da loura "enxuta e gostosa", a mulher de trinta que transforma Naira Keiserman em uma bacante. É uma delícia ver as mudanças da atriz, e a iluminação (Demétrio Nicolau), se alternando a cada movimentação de cena, e dando dinamismo ao espetáculo.
     Vemos que atriz e diretor não resistem à tentação de transformar o espetáculo em um depoimento pessoal, e emotivo, narrando os últimos momentos de Caio Fernando. Talvez sejam estes momentos os que menos somam ao inesperado das cenas, porém eles se alternam com o que poderíamos chamar "o conto feliz" imaginado pelo autor, onde tudo dá certo.
     Nunca tínhamos visto Nara Keiserman em cena. Revela-se uma atriz de recursos admiráveis, uma espécie de Annie Girardoux madura, com uma força e delicadeza ancestrais. Nara é uma, e são muitas. Vale a pena assistir a esta atriz/mulher. A dramaturgia também é de Nara. Cartas carinhosas de Caio Fernando Abreu, dirigidas a ela e ao se ex-companheiro, o ator Jose de Abreu; ou mesmo a carta em que Abreu, (Caio),  agradece a montagem de Morangos Mofados, por ela realizada ainda em seus tempos de Porto Alegre. Sim, porque Nara Keiserman é gaúcha, e começou seu teatro no Grupo de Teatro Província, em Porto Alegre; no Rio trabalhou com Luiz Artur Nunes, no Núcleo Carioca de Teatro. Agora ela pertence ao grupo Atores Rapsodos.
     O que mais impressiona nesta atriz é a serenidade. E a busca de seu talento. Busca e encontro plenamente realizados. Ah! Íamos esquecendo: Nara cantora. O feitiço pela Bahia - de Caio e da atriz? - são representados pelas canções e citações gestuais de festas baianas. O figurino, branco, saia longa, é de Carlos Alberto Nunes. A Bahia representada? O Cenário, também de Nunes, é uma espécie de camarim improvisado, e palco nu. O "caminho das estrelas" o faz Nicolau com a luz. Diz Nara, deixando claro a espiritualidade que a habita: " a especialidade, concebida por Demetrio Nicolau, forma uma estrela de seis pontas. Considerando o centro, são os sete Chakras. Defini o lugar onde faço cada texto de acordo com o que considero ser seu tema (...) em associação com as características dos Chackras." Orientação musical Alba Lírio; Produção: Natasha Corbelino; Assessoria de Imprensa: Sheila Gomes.

Não perca esta oportunidade de se emocionar com este No se puede VIVIR sin amor.                                                                                       

sábado, 10 de janeiro de 2015

EU E ELA

ELA e EU: Ernesto Piccolo, diretor, Claudia Mauro, atriz,  e Guilherme Fiuza, autor.


 IDA VICENZIA
da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     EU e ELA não é um texto de teatro, mas "variações em torno de um tema" - sobre a barata. O autor, Guilherme Fiuza, no programa de seu primeiro texto teatral, dá uma piscadela de olhos para os "acadêmicos"... Não! Não vamos citar Kafka, nem pensar no funcionário público Gregor Samsa, que virou uma barata, porém temas com este inseto podem ser muito interessantes.

     Não é o caso de EU e ELA. Há um primeiro momento, quando a protagonista (Claudia Mauro), se encontra com a barata.  Estes são minutos de um humor irresistível. A partir daí pensamos: "e agora, como vão autor e diretor (Ernesto Piccolo) manter este tema?". As possibilidades são muitas, o autor optou por exacerbar cenas do cotidiano. Apesar da repetição, às vezes cansativa, do mesmo tema, podemos colher, aqui e ali frases inteligentes. Fiuza aproveita para abordar, através do tema da barata, o relacionamento entre casais; ou o desempenho de uma dupla de policiais (um homem e uma mulher) em situação de emergência; ou, ainda, algumas reflexões da protagonista, que soam como uma crítica à inverossimilhança do texto.

     Não negamos que se trata de um autor irônico, que deixa entrever alguma crítica aos desacertos de nosso frágil espírito humano. Tudo bem. Porém, para o crítico, o fato de assistir a uma estréia traz em si um toque de sadismo. Sim, ele vai perceber, nos mínimos detalhes, o que não funciona, como, por exemplo, a visão (na platéia) dos técnicos nos bastidores trabalhando para que tudo dê certo com a barata. Não dá, e não é culpa dos técnicos... é da estreia! A barata é uma ideia maravilhosa, existe uma mal explorada cena de pesadelo (que poderia ser genial), da pobre mulher fóbica sonhando, aterrorizada, com uma barata que adquire proporções humanas. Perde-se a cena pelo fato de o autor e diretor não enfatizarem, no sonho, a reação da fóbica vitima da barata.

     Enfim, Claudia Mauro dá o que de melhor uma atriz pode dar, porém as situações repetitivas se esgotam em si. Há frases interessantes, como a constatação da vítima (Claudia), que a barata é burra, pois voa em direção ao seu pedrador ... e aí o autor nos compara ao tubarão... julgando o ser humano um pedrador. Tudo bem, mas essa comparação é milenar. Neste texto, que pode ser de teatro - parafraseando Mário de Andrade pode-se dizer "que é teatro tudo o que chamamos de teatro" - há um descompasso na narrativa.  
  
     Os dois atores que completam as cenas, Stella Brajterman e André Dale (lembramos algumas vezes, na interpretação de Dale,  do ator André Vale - só que mais bonito), são muito bons. Há momentos de comédia inteligente, como a cena em que os dois (Brajterman e Dale) interpretam o exagero policial dos agentes chamados para liquidar com a barata. Outra situação, essa de auto ironia, é a referência - discreta - ao relacionamento de um casal, onde a "histérica" tem que conviver com o "intelectual". 

     Quanto à protagonista, lembramos da grande comédia musical Randevu do Avesso e o encontro inesquecível com Claudia Mauro. Neste EU e ELA a atriz também apresenta seus dotes de bailarina dançando o "Funk da Barata", porém sem o mesmo impacto do Randevu. Como Claudia sabe muito bem, é difícil fazer comédia, trata-se de uma máquina azeitada.

     Na ficha técnica temos o nosso querido Ernesto Piccolo (que ainda vai reajustar o espetáculo), na direção. A ótima Clívia Cohen com a sua criação da barata gigante, um grande estímulo para alavancar o espetáculo, trazendo o inesperado. Os cenários, que aproveitam bem o espaço reduzido do Teatro Ipanema, são um apoio essencial ao desempenho do atores. Os figurinos do "dia a dia" são de Maria Estephania. Iluminação, Tiago e Fernanda Mantovani. O operador de som, Janser Barreto, teve alguns problemas no dia da estréia, como o teclado da internet e o som do celular. Excessivo, o teclado (parecia uma máquina de escrever antiga), e fora de ajuste o celular. Coisas da estréia. Claudio Baltar faz a engenharia circense (da barata!) e Dora Pellegrino reaparece como Assistente de Direção. A trilha sonora é de Rodrigo Braga, e o "Funk da Barata", dançado por Claudia Mauro, é de autoria de Liah Soares e Guilherme Fiuza. Preparação vocal Rose Gonçalves. Assessoria de Imprensa,  Minas de Ideias.                      

 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

CONSTELLATION

Juliana Jullie Vasconcelos (Regina Lucia) e Márcio Louzada (Tenente Zé Luis), em Constellation. Foto Milton Menezes.


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

    Raramente assisto musicais pelo simples fato de que eles, em sua maioria, são óbvios. Mas este Constellation tem respiração nova; é a historia de nosso querido Rio de Janeiro enquanto Capital Federal, e  abrange o espírito carioca, sem folclore. Um período em que havia delicadeza entre as pessoas, galanteria, educação entre os homens. Havia charme. O idealizador do espetáculo, e criador do texto, Marcos Magnavitta, sabe muito bem do que está falando. Eram tempos de namoros contidos, de mulheres inteligentemente irônicas, de papéis sociais definidos... Lovie Elizabeth, por exemplo, interpreta uma funcionária do Ministério da Educação, Gilda Maria - mãe da protagonista Regina Lúcia - e se refere ao seu trabalho federal com sendo uma grande "ação entre amigos". Aliás, esta atriz talentosa, para mim desconhecida, revela-se uma grande interprete e encerra a cena cantando Unforgettable, trazendo o espírito da época, qual uma Ethel Merman brasileira. A compostura cênica e a voz de Lovie são invejáveis.
     Há também o papel da nossa Marinha, a mais sofisticada das Três Forças Armadas, representada com discrição pelo Tenente Zé Luis (Marcio Louzada), o personagem que não perde a compostura mesmo diante dos maiores desafios. Ele é do tempo do namoro vigiado, e dos gestos que se tornaram simbólicos. Uma delícia. O ator transmite estes limites com muita clareza. Correspondendo ao namoro, com entusiasmo de mocinha ingênua, a ótima Regina Lúcia, interpretada por Juliana (Jullie) Vasconcelos. Revelação de um programa de calouros de nossos dias (como acontecia antigamente na Radio Nacional), a atriz cantora é jogada diretamente para o centro das atenções, tornando-se a protagonista do espetáculo. A bela voz, o canto livre e controlado de veterana nos faz supor que há algum play back na cena, porém é puro controle vocal mesmo, pura técnica.  Constellation é uma caixa de surpresas. 
     Citamos três papeis de destaque. Há mais dois. O do surpreendente Franco Kuster, cuja voz e interpretação se encaixam no trabalho bem orientado pela direção de Jarbas Homem de Mello, e consegue mutações, como na cena em que interpreta Jorginho Guinle e se apresenta com a música The Great Pretender, dando o tom de playboy, e de cafajeste elegância, à ovelha negra da família. Como seria recebido hoje este herdeiro de um porto, que outrora proporcionava uma fortuna inconcebível à família, tudo cedido por Vargas, e só comparável ao porto de Daniel Dantas "o outro", e seu fundo imperdível. Não nos indignamos, mas nos divertimos com Jorginho. Afinal, como todos os herdeiros perdulários, ele acabou da mesma maneira, em um pequeno apartamento, vendendo os seus pertences, até morrer (que maldade, mas é verdade). Franco Kuster é uma surpresa, é um artista total.
     E agora a "tia" Maria da Penha, que de tia não tem nada (pelo que hoje se conhece por tia), mas é uma muito bela Andrea Veiga, no papel de uma vedete de Carlos Machado. Canta bem, é bonita, faz tudo acertado, mas falta-lhe o que Lovie possui às toneladas, o amor recíproco do palco. Às vezes Veiga passa uma certa malícia natural, mas, em geral, seu tom artificial não colabora com o seu desempenho. É excessivo. Pensando bem, talvez este seja o comportamento de uma vedete. Não sei.
     Os locutores e boys band que compõe a cena estão muito bem afinados, Cleiton Moraes, Daniel Cabral, Draysoin Medeiros e Ugo Capelli. A seleção de acontecimentos que Magnavita selecionou dão a medida daqueles tempos "honestos", onde até a torcida do America tinha vez! Trata-se de uma cena de alta potência erótica, o desvendar dos belos jogadores. As músicas fazem o espetáculo caminhar. Em se tratando de recado dramatúrgico, Stand By Me pega o público, quando o elegantíssimo Tenente apenas sustenta, sem ciúmes, mas com eloqüência, o seu amor pela requisitada jovem que vai para Nova Yorque e talvez o esqueça.
     A história narra os acontecimentos em torno de um concorrido sorteio feito pela Radio Nacional, para escolher o vencedor que irá viajar nas asas da Varig, no primeiro vôo do Super Constellation G para Nova Yorque, e todos os encantos que esta viagem pode proporcionar. O frisson em torno do acontecimento se acelera, interrompido apenas por 15 minutos de respiração para o elenco. A destacar as projeções de Thiago Stauffer, Felipe Menezes e Aldo Aroldo, que dão vida e fazem o espectador viajar. Aliás, todo o espetáculo é cuidado nos mínimos detalhes, fazendo surgir um tempo brasileiro diante de nossos olhos. Os figurinos, impecáveis, de Patrícia Muniz, correspondem à delicadeza da época.  A direção musical e os arranjos são feitos por Beatriz De Luca, uma respeitável maestrina que nos encanta com o seu trabalho. A coreografia é de Vanessa Guillen. As músicas são executadas ao vivo por André Barros, Wagner Bispo e Mazinho. Pianista Eduardo Henrique, que também é o Band Leader. Pianista Ensaiador: Thaylson Rodrigues. Cenário Natalia Lama e Iluminação Paulo Cesar Medeiros. Visagismo: Dicko Lorenzo. Fotos: Milton Menezes; Projeções e Audiovisual Studio Prime. Sound Designer Fernando Fortes; Produção Geral Frederico Reder. 3D, Raphael Coppola; Assessoria de Imprensa Minas de Ideias, Fabio Amaral. Equipe de Comunicação, Luana Ribeiro, Rodrigo Trabbold e outros.            
    Acompanhamos a lenta saída do público, com a plateia lotada, e ficamos observando o palco, e o que restou de seu mundo encantado: uma cortina vermelha e alguns refletores piscando a sua luz bruxuleante.
       Este Costellation é um espetáculo belo e emocionante. Não percam!