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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

"VAIDADES E TOLICES"

"Vaidades e Tolices" - uma compilação dos contos de Tchecov "O Urso" e "Pedido de Casamento".
Direção Sidnei Cruz. (Foto Guga Melgar)


IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de teatro - AICT)
(Especial)

"VAIDADES  E  TOLICES"

     Comemorando os seus 25 anos de encenações, a 'Cia. Limite 151' festejou, no primeiro semestre de 2016, levando a cena Anton Tchecov e suas peças curtas: "O Urso" e "Pedido de Casamento". O apelo ingênuo e bem humorado destas duas peças alegra os corações. Com inspirada direção de Sidnei Cruz, os atores Edmundo Lippi, Flavia Fafiães, Isabella Dionísio, Marcello Escorel e Rafael Canedo levaram ao público os deliciosos momentos de delicadeza, malícia e inteligência do texto do dramaturgo russo.

     Muito boa a encenação de Sidnei Cruz, ao fazer o entrecruzar das historias de dois casais, em seus instantes de "enamoramento". É bom poder rir com os encontros e desencontros dos casais formados por Natalia Stepanovna (Dionísio) e Ivan Lomov (Canedo), em "Pedido de Casamento" - mais ingênua e recorrente -, e assistir a grande brincadeira que é "O Urso", sucesso certo para quem a interpreta - sendo maior ainda com  Marcello Escorel jogando com o mulherengo, brutal e apaixonado Grigóri Smirnov, seguido, na sequência, por uma não menos inspirada viúva, Eliena Popova, interpretada com detalhe, malicia e precisão por Fafiães.    
  
     A "Limite" especializou-se em nos brindar com um teatro de repertorio dos clássicos, e é graças a ela que podemos assistir a um simpático Molière, ou as aventuras e desventuras dos personagens de Ariano Suassuna. Seja bem-vinda, 'Limite 151'!

     Seu produtor e ator, Edmundo Lippi, um incansável amante do teatro, atua fazendo a 'costura' dos dois espetáculos, ora interpretando o pai da jovem Natalia, ora o mordomo de Eliena Popova, sempre de maneira eficaz e correta.

     No complicado mecanismo de precisão, criado por Sidnei Cruz, os atores  contracenam com os objetos de cena, "desconstruindo-os", e se entrecruzam, em cenas rápidas, fazendo o contraponto com as historias que estão sendo contadas. É tudo muito rápido, e, segundo o diretor, procura acompanhar a "folia verbal" do autor. E acompanha. Mas não deixa de ser surpreendente, para quem está acostumado com um Tchecov introspectivo, e seus personagens da "burguesia decadente" russa.

     Neste sentido, Cruz extrapola. Essa nova versão de Tchecov, o "novo autor russo", nos trás um efervescente espetáculo, quando, por exemplo, o "Urso" Grigóri, ao perceber estar apaixonado pela viúva (Fafiães), nos oferece uma comicidade irresistível, interpretada com brilho por Marcello Escorel.

     As historias dos casais, na concepção de Cruz,  se entrecruzam, em um ritmo veloz. Esse ritmo, e as palavras do pai de Natalia (Edmundo Lippi), cheias de subterfúgios, remetem ao 'falar' tchecoviano dado às suas peças curtas, ao deixar em aberto o "isso e aquilo"... "e coisa e tal...", sem especificar o sentido.

     É muito bom ver um espetáculo em que ainda se conta uma historia (dinamizada pelos mais variados acontecimentos), e da qual se pode rir, com delicadeza, da sutileza do grande autor russo. Tchecov parece estar presente (e está!), piscando o olho para a platéia, diante das artimanhas de seus personagens. É um prazer participar desse Tchecov, envolvido com o olhar criativo de Sidnei Cruz.        


     Na ficha técnica temos, além dos já citados, cenário e figurinos (muito bons, ágeis, cheios de artimanhas, como o figurino da viúva...) - de Colmar Diniz. Música e Direção Musical: Wagner Campos. Iluminação de Rogerio Wiltgen; Produção Executiva: Valéria Meirelles; Direção de Produção Edmundo Lippi; Adereços, Elísio José e Fotos de Guga Melgar. ESPERAMOS MAIS 'LIMITE 151', NO PRÓXIMO SEMESTRE, COMEMORANDO O ANO DE SEU ANIVERSARIO!     

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