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terça-feira, 23 de maio de 2017

I V A N O V

Em cena: Isio Guelman (Ivanov); Mayara Travassos (Sacha); Marcelo Aquino (Lvov); Marcio Vito (Pacha) e Mario Borges (Micha), em 'a cena do casamento'.  Ivanov, de Tchecov, direção Ary Coslov. (Foto Dalton Valerio).


IDA  VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)

     O renascimento do Teatro Ipanema está dando bons frutos: desta vez temos o  dramaturgo russo, Anton Tchecov com Ary Coslov na direção, ressuscitando o teatro de Rubens Correa! Sim, a assinatura dos dois talentos, o russo e o brasileiro, traz de volta a grandeza do teatro dos anos 70, de Rubens. A peça de Tchecov, Ivanov, escrita em 1887 e em cartaz no Rio de Janeiro neste maio de 2017, é reconhecida como o primeiro texto completo do autor russo.

     Eis os personagens: O típico agregado, o homem do povo russo, o bebedor de vodka e falastrão que chega a sufocar o público (às vezes!), e irritar Ivanov com sua exuberante energia, é Micha. Você está vivo e magnífico, na interpretação de Mario Borges, Micha! E há o senhorzinho, Ivanov! o homem acostumado com o seu dinheiro e seus cálculos; ou será um intelectual perdido na mediocridade da província? Ou simplesmente um caçador de dotes? Isio Guelman está brilhante, interpretando Ivanov.

     E 'essa crítica que vos escreve' vai - de surpresa em surpresa, de emoção em emoção - testemunhando o desenrolar da cena perfeita. Cenario (Marcos Flaksman) simples, com praticáveis que solucionam as cenas, e onde pequenas projeções sobre tela  representam a natureza. E a luz mágica (Aurélio de Simoni), marcando locais e emoções! Que bela a luz vermelha que incendeia a 'natureza', quando a sofredora esposa de Ivanov, Anna Pedrovna, explode de amor! Magnífica e contida, Sheron Menezzes se transforma em indignação, quando, no final, Anna descobre a verdade.

     O elenco é excelente!

     Marcelo Aquino interpreta o médico Lvov (quem admira Tchecov já deve ter percebido que o dramaturgo - também ele um médico - traz presente em suas peças esse personagem observador de corpos e almas). Saudamos a grandeza do Dr. Ievguêni Lvov, interpretado por Aquino. O ator transmite a paixão do médico e nos faz suspeitar que Ivanov tem um pouco de Tartufo, em seu descompromisso com a moral! Sim, Aquino/Lvov traz à cena, sem ironia, a  voz de Tchecov.

     Mas quem é Ivanov, afinal? Tchecov nos confunde. O personagem título é uma charada e uma angustia plena. Isio Guelman nos transmite, com precisão, o que chamaríamos de a 'inadequação para a vida' do personagem.

     Marcio Vito é Pável Liébedev (Pacha). Um homem e um pai. Deixa-se conduzir (dominar?) pela mãe da jovem Aleksandra, filha casadoira de Pacha. Esse homem é bonachão, simpático, ardiloso... e dominado pela mulher! É o típico burguês de Tchecov, que trafega muito bem tanto pelo mundo de Micha e suas vodkas, como pelo confuso mundo de Ivanov. Ele contemporiza, e é um dos responsáveis pela deliciosa ironia (sutil?) do autor. Marcio Vito/Pacha é outra surpresa emocionante interpretando o personagem.

     Temos grandes atores em cena. E temos agora a jovem Aleksandra (Sacha) interpretada pela atriz Mayara Travassos. Uma atriz sensível, que nos apresenta uma jovem adolescente apaixonada pelo amor. Mayara coloca em cena todo o vigor de Sacha em sua visão romântica da mulher do século XIX.

     Os figurinos de Beth Filipecki são lindos e apropriados. A trilha sonora de Ary Coslov inicia-se clássica, sem sobressaltos, guardando os mesmos para o final, quando faz uma homenagem aos anos 70? O público fica surpreso, mas os Beatles fazem sentido naquela hora! É de Isio Guelman o belo design gráfico do programa. Assessoria de Imprensa de SPontes - João e Stella Pontes. Tradução, Adaptação e Direção de Ary Coslov.  
             

     E o espetáculo se encerra com o questionamento de Tchecov, ao qual estamos acostumados: se você destacar um objeto de cena no início da peça, terá que justificá-lo em algum momento, até o final da mesma. Em Ivanov, sua primeira peça longa ("completa", como nos lembra Ary Coslov), o autor nos desafia com sua precisão, e a sólida estrutura de sua construção dramática. É ver para crer.         

Um comentário:

  1. Oi Ida, eu já estava com vontade de ver essa peça. Agora mesmo é que vou me programar. Beijos.

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