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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

"AGOSTO"

              Elenco de "Agosto". Autor Tracy Letts. Diretor Andre Paes Leme. (Foto Silvana Marques)


CRÍTICA DE  TEATRO
IDA VICENZIA
(da  Associação  Internacional  de  Críticos  de  Teatro - AICT)
(Especial)

"AGOSTO"
Esse pessoal do "meio-oeste" americano tem lá o seu jeito para teatro! Tracy Letts é atrevido, e transforma o seu relato em algo com personagens tão marcados, tão desenhados, que por vezes pendem para o absurdo. Outra coisa interessante é que possui o tom "velho/ novo" dos grandes dramaturgos, sem fazer alarde dessa condição. Há de tudo, no texto: poetas negando o seu talento, pessoas doces convivendo com feras - o "mundo real" passando pelo texto e abrindo (ou fechando) janelas que se tornam, às vezes, previsíveis. Quem for assistir, verá. Faz parte do jogo. Há um morceau de bravure para cada personagem. Sim, trata-se de um texto sufocante, claustrofóbico, onde todos os personagens podem brilhar. É teatro de raiz! Gosto dos irlandeses dramaturgos (os que vou citar agora, e muitos outros que transformaram a America teatral), só não gosto da mania que os colonizadores irlandeses tinham, essa mania de matar índios americanos... Aliás, para mim, a segunda personagem fabulosa em "Agosto" é a índia... Adivinhem quem é a primeira?

     Vamos aos dramaturgos (a alguns deles). Haja fôlego! Lembram-se de "Full for Love"? Ou de "Um Bonde Chamado Desejo"? Gênios como Sam Shepard: "Quero que as pessoas vivam as minhas peças com um senso de questionamento, de mistério". Tennessee, que veio do Mississippi e trouxe essa gente estranha para o palco.  "Agosto", agora, é um misto de amor e ódio, filhote destas inspirações. O autor veio de Oklahoma, e seu texto é mais descarado ainda - pois o "irlandês" às vezes homenageia Nelson Rodrigues! Um achado de Guida Vianna, pois este é o papel de sua vida!

     Quero ser breve. Aconselho às pessoas claustrofóbicas a não assisti-lo, ou a assisti-lo, justamente para descobrir se são claustrofóbicas! Há para todos os sentidos. Elenco e direção têm obrigação de ter nervos de aço. (O que mais espanta, em teatro, é ver aqueles atores, que viveram coisas inacreditáveis em duas horas, e depois sorrirem para o público, despedindo-se e agradecendo com sorrisos de anjos, como se tivessem participado de uma comédia. Será?).

     André Paes Leme, o diretor que mora em Portugal e veio especialmente para dirigir a peça, alerta para a tentação de banalizar o teatro, fazendo tudo virar comedia. Não é o caso, mas anda próximo... Enfim, não dá pra segurar esses irlandeses, embora eles sempre lembrem um pouco os brasileiros...

     Fico por aqui. Quero dar meus parabéns aos desempenhos surpreendentes do elenco: Guida Vianna (Violet); Claudia Ventura (Karen); Claudio Mendes (surpreendente o seu crescimento como ator. É verdade que não assisto Claudio há muitos anos, quase não o reconheço, está uma bela presença em cena, e ótimo ator). Aliás, de ótimos atores é feita a peça, senão não seguram tudo o que Letts/Leme pedem deles! Há ainda a doce índia (e, por eliminação acho que cheguei a Marcio Vito (Steve). Julia Schaeffer; Letícia Isnard; Eliane Costa; Guilherme Siman; Marianna Mac Niven (Ivy); Paulo Giardini (o doce Beverly).            
     Cenografia Carlos Alberto Nunes; Figurinos Patricia Muniz, Iluminação: Renato Machado (como sempre, destaque); Música: Ricco Viana; Fotografia Silvana Marques. É PRECISO NERVOS DE AÇO PARA ASSISTIR "AGOSTO". UM DESAFIO.
    


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