Páginas

sábado, 27 de janeiro de 2018

"O PRINCIPIO DE ARQUIMEDES"

Resultado de imagem para fotos o principio de arquimedes teatro
Cirillo Luna (Rubens); Helena Varvaki (Ana); Sávio Moll (David); Gustavo 
Wabner (Heitor), em "O Principio 
de Arquimedes", direção de Daniel Dias da Silva (Foto Zero8Onze)

IDA VICENZIA
(da Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial)
     
                    
     Eis algo que me  deixou profundamente impactada, ao ver a suspeição crescer e se tornar um caso concreto, aflitivo, na peça "O Príncípio de Arquimedes", do dramaturgo catalão Josep Maria Miró. Claro que tal "principio" nos remete a algo muito remoto, talvez a algum estudo que  tenhamos feito no ensino médio, quando estudamos algo sobre física, e o vemos enfocado no programa da peça: "um corpo estranho entra em choque com uma massa fluida e causa repulsão, ou expulsão". Tal frase poderia ser a sinopse do espetáculo.

     O impacto imaginado, ao ver o titulo da peça e a singeleza com que os fatos se definem, não nos leva a seu terrível final. Nós não estamos preparados para ver a força da "expulsão" crescer e se tornar tão destruidora! 

     Pela primeira vez encenada no Brasil, a peça põe em questão a nossa imaginação e o impacto causado sobre ela, pelo mal entendido que aporta, enfatizando os tempos difíceis que vivemos agora. E, a propósito, há uma cena de Ana, em que a proprietária da escolinha (interpretada com interioridade e emoção por Helena Varvaki), revela que vivemos um tempo em que o preconceito e a suspeição comandam. E Ana nos leva a relembrar quando as pessoas podiam estar com os seus, brincar com seus corpos, ser carinhosas, não acarretando a malícia doentia que cerca os nossos dias.   

     O desenvolvimento da peça mostra a reação - em um crescendo - da empresaria dona da escola de natação para crianças, contra um dos professores, o sensível Rubens (ótima interpretação de Cirillo Luna), e nos dá a presenciar a força do "empuxo" que leva à desagregação das amizades e dos sentimentos. 



     "O Principio de Arquimedes" trata, com muita propriedade, da força da suspeição. Temos em cena quatro atores que vão desenvolver um problema que atualmente preocupa pais e professores: o tratamento "diferenciado" entre crianças e adultos, e sua repercussão na vida dos mesmos. Esse problema surgiu da intensidade insana com a qual os sentimentos são discutidos, hoje em dia, em nossa sociedade.  
  
     David, o pai do pequeno Daniel, um dos alunos, não "o" aluno - entra em contato com a diretora da escola para se informar sobre os acontecimentos na mesma. David é interpretado por Sávio Moll, com justa (e ameaçadora) intervenção.

    O cerco vai se fechando sobre o bom e sensível professor Rubens, e a peça vai se estruturando para colocar a nu os bons sentimentos. E não erramos. Cada vez mais o professor acusado é cercado de suspeição, tendo até o seu bom companheiro de escola, o também professor de natação Heitor (interpretado por Gustavo Wabner), começado a suspeitar do colega.

     Vocês podem imaginar aonde vai parar essa historia? No pior dos becos, é claro. Bom texto, excelentes interpretações, direção original e criativa de Daniel Dias da Silva, que também é o tradutor. A cenografia, muito comentada, é de Claudio Bittencourt. O cenógrafo coloca a divisão do palco, e objetos de cena, em tal disposição que é possível contar a mesma historia de dois pontos de vista, tentando enfatizar o que realmente aconteceu. Os figurinos, muito apropriados, tanto os que compõem o trabalho do dia-a-dia dos professores, como o mais sóbrio, da proprietária da escolinha. Figurinos de Victor Guedes. A Preparação Corporal dos atores é feita pela coreógrafa Sueli Guerra. Trilha Sonora Original de Tibor Fittel. Guitarras e estúdio: Clauber Fabre. (Cotação CINCO ESTRELAS)

    




Nenhum comentário:

Postar um comentário