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terça-feira, 11 de abril de 2017

UM AMOR DE VINIL

Françoise Forton e Mauricio Baduh em "Um Amor de Vinil", texto de Flavio Marinho, direção André Paes Leme.

IDA VICENZIA
( Associação Internacional de Críticos de Teatro - AICT)
(Especial Rio)

     Flavio Marinho nos traz à cena um momento de romantismo e comedia com o seu texto "Um Amor de Vinil" fazendo o público transitar entre compositores como Getulio Cortes, na música imortalizada por Luiz Melodia, "Negro Gato", que Françoise Forton interpreta, abrindo a cena com muito humor e ironia. A direção é de André Paes Leme, e essa é uma estréia do Teatro Fernanda Montenegro, no Leblon. São 22 canções românticas, embaladas pelas vozes de Mauricio Baduh, Françoise Forton e Marco Gérard, ator e músico, e Gustavo Salgado no teclado.
     Forton revela seu talento para a comedia, apresentando um "tempo" único para se relacionar com o público. Dotada de uma interpretação sensível, sua voz é explorada com muita competência, dando-lhe ótimos momentos, como em "Nasci para Chorar", música na qual Françoise mostra a que veio, ou seja: encantar o público. Também Mauricio Baduh nos dá uma grande revelação com seu timbre de voz que remete a Roberto Carlos. A dupla tem momentos ótimos. Não podemos deixar de nos referir ao grande final, quando "Falando Serio" é cantado por Baduh e interpretado por Forton, que transmite o sentimento da canção através de sua expressão facial. Momento marcante.       
     O texto de Flavio Marinho faz, com muito humor, alusões críticas aos críticos, a certos musicais e às peças "papo-cabeça". E, sim, Marinho coloca o problema do "alemão" e do "inglês" (Alzheimer e Parkinson) brincando com os "esquecimentos" de Amanda (Françoise Forton). Aliás, o texto brinca também com a morte... com um certo humor funébre. Há, neste texto de Flavio Marinho, um leve despertar da linguagem de hoje, perpassando a troca de papéis entre o homem e a mulher, transmitida através das canções. Observamos que "Começar de Novo" é cantado pelo homem, voltando às raízes, pois Ivan Lins e Getulio Costa a compuseram propondo a liberdade e o renascer do amor, porém a cantora Simone dela se apropriou, tornando-a praticamente um hino  feminista!
     Não sabemos se Marinho e Paes Leme (na direção), tiveram a iniciativa de "espicaçar" esse lado do relacionamento amoroso, a liberdade feminina, em homenagem ao momento muito particular em que vivemos: o relacionamento homem/mulher. O certo é que "Negro Gato" é cantado por uma mulher... embora meio maluquinha, uma empreendedora (tem um negócio, uma loja da discos de vinil muito procurada), o que já é uma proposta de liberdade financeira. O autor chega perto da discussão dos papéis sociais, e como esse não é o tema da peça... fica somente a sensação da liberdade da mulher e da fragilidade do homem! Eis um caminho novo para os novos musicais...    
     Figurinos: do cotidiano, de Ticiana Passos. Direção Musical Liliane Secco. Iluminação Paulo Denizot. O Cenário de Carlos Alberto Nunes convive com o outro espetáculo da produção "Nós sempre teremos Paris..." e a "loja" se transforma em um "bar", permanecendo nele os muito bem bolados cubos portáteis com imagens dos antigos discos de vinil... Direção Coreográfica de Marina Salomon. Produção Barata Comunicação. É  BOM  VIVER  ESTE  MOMENTO  DIVERTIDO!      





    

Um comentário:

  1. Cara Ida, você, como sempre, nos encanta com sua análise primorosa dos palcos da vida. Através dos seus olhos, consigo imaginar a delícia que deve ser este espetáculo. Vou correndo assistir. Beijos.

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